domingo, 27 de junho de 2010

Tradição cultural

Na última quinta-feira, estivemos eu e um colega de trabalho presentes à aula inaugural da 9ª edição do "Seminário Permanente de Políticas Públicas de Cultura do Estado do Rio de Janeiro". Nome grande, é verdade. Espero que o aprendizado também.

A tal aula inaugural - desculpe, detesto esse termo. Ter que usá-lo duas vezes então, nem se fala - foi realizada nos moldes a que estamos acostumados: mesa com representantes de praticamente todos os apoiadores do evento + palestra de algum fulano renomado. No caso, o fulano era a Professora Lygia Segala.

Confesso antes de mais nada, que nunca havia ouvido falar na Profª Lygia. Durante a "palestra-aula", por momentos percebi que ela sabia do que estava falando. Mas a certeza só tive depois de googlar o nome dela. Doutora em antropologia pela UFF (Universidade Federal Fluminense), autora da tese "Ensaio das luzes sobre um Brasil pitoresco: o projeto fotográfico de Victor Frond", ela é nome carimbado na antropologia cultural brasileira, pelo visto.

Pois bem, depois de terminada a palestra, foi aberto um espaço para debate. Espaço aproveitado pelos alunos para criar polêmica. Pouco aproveitado, porém, para o aprendizado. É difícil aprender ou confiar em argumentos quando quem os defende não se dispõe a se colocar no lugar do outro. E isso costuma ser recorrente em discussões polêmicas. Não foi diferente na quinta-feira.

Apesar disso, um dos temas discutidos (talvez o menos discutido) me chamou a atenção: "tradição cultural". É bem capaz que eu tenha me prendido tanto a este tema pelo fato de ter lido o artigo da Cora Rónai (@cronai) n´O Globo durante a viagem ao Rio. O fato é que acho que deveria compartilhar com o máximo de pessoas possível, pelo menos um trecho do artigo, o qual deixo aqui embaixo para vocês:

"Não tenho mais paciência com a tolerância politicamente correta que aceita qualquer estupidez que se apresente como “tradição cultural”. É como se a humanidade não evoluísse ou, pior, como se toda ou qualquer evolução fosse algo suspeito e forçosamente inferior às genuínas manifestações das nossas almas primitivas.

Agora mesmo acompanhamos a novela das vuvuzelas da Copa, que acabaram não sendo proibidas na África do Sul porque são uma “tradição cultural”. E daí se a trilha sonora dos estádios perdeu em graça e em pluralidade, e daí se quem não sopra aquelas porcarias não suporta o seu barulho? Tasque-se o carimbo de “tradição cultural” na pior imbecilidade e pronto, ela fica imediatamente acima do bem e do mal.

Baloeiros se fazem de vítimas e posam de heróis na internet sob a alegação de que estão mantendo uma “tradição cultural”, enquanto florestas inteiras são queimadas no Nordeste -- porque as fogueiras de São João são, igualmente, uma “tradição cultural”. E daí que as matas peguem fogo, que plantas e bichos desapareçam, que a devastação seja geral? A lei proíbe balões? Proíbe fogueiras em áreas urbanas? Dane-se a lei.
* * *

Claro que o prejuízo causado por uma vuvuzela ou por todo um enxame de vuvuzelas não se compara à destruição que pode vir no rastro de um balão ou de uma fogueira, mas, ainda que diferentes, essas pragas sobrevivem graças ao mesmo fenômeno. Simplesmente não temos mais coragem de apontar para alguma coisa e dizer que está errada. Touradas? “Tradição cultural”. Farra do boi? “Tradição cultural”. Trote em calouros? “Tradição cultural”.

Ora, sacrificar crianças para aplacar a fúria dos deuses também foi, durante milênios, uma “tradição cultural”. Castrar meninos de voz bonita, então, nem se fala – não houve grande compositor, até o Século XIX, que não compusesse árias para os castrati. Pode existir “tradição cultural” mais tradicional, ou mais cultural?

Mas suspeito que, se tivessem sobrevivido até hoje, mesmo essas práticas infames teriam o apoio de incontáveis defensores, acovardados pela noção de que tudo no mundo se justifica."


Caso queiram ler o texto completo, visitem o internETC, o excelente blog da Cora.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Agradável surpresa musical

Dia desses, estava eu assistindo ao programa "Experimente" do Multishow e me deparei com um artista de aspecto e voz muito discretos e proporcionalmente agradáveis. Parei de zapear os canais e aguardei mais um pouco. Não consegui mais apertar os botões do controle remoto, a não ser que fosse para aumentar o volume. A surpresa, diga-se de passagem, agradabilíssima tem nome e sobrenome: Edu Krieger.
Aqui você pode ver uma entrevista interessantíssima com ele. E aqui confere links para baixar seus álbuns. Aconselho que, de cara, ouçam a "Correnteza" e "A mais bonita de Copacabana".
O crédito da foto ao lado é da Carol Novaes.